Sou ser que escapa em brechas de não-ser Cada vez mais a palavra que me habita. Para além do que me limito Para além, muito além do que me limita Com o cuidado do cirurgião Que caça errancias nos pedaços que não são Me opero sem anestésicos Me simbolizo novas palavras Novas possibilidades E assim me constituo Sou do Verbo que se fez carne e Ele habita em mim Mesmo com todas as minhas tentativas de desvendar os mistérios do fruto proibido. Com o Verbo em mim aprendo a me habitar. nas linguagens (todas!) que me permito auscultar.
A palavra é uma isca
“Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, podia-se com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra, ao morder a isca, incorporou-a.” (Clarice Lispector)